A ÚNICA CONSTANTE É A MUDANÇA
Como o reggaetón está desenvolvendo uma nova forma de perreo e músicas para entender melhor esse novo estilo musical
Você pergunta quem ela é? Rosa Perreo organiza festas em New York (Foto: rosaperreo.com)
“O neoperreo é a interseção entre a era digital e a influência do reggaetón nos novos artistas”, assim define o neoperreo a artista Tomasa del Real.
Esse subgênero foi criado no Chile na década de 2010, na era digital. Apesar de nascer no Chile, em tempos de internet e globalização, não existem fronteiras geográficas. O neoperreo é a evolução natural do reggae. O dej dembow continua sendo o ritmo dançante, em sua maioria mais eletrônico, mais alternativo ao reggaetón tradicional e com uma grande influência do deconstructed club – um estilo experimental de música eletrônica dançante caracterizado por uma abordagem pós-moderna e um tom agressivo e distópico. Tomasa del Real, uma das referências mais conhecidas do neoperreo, afirma: “É um novo tipo de reggaetón, o que não mudou é que é feito para dançar (), dessa forma é um novo estilo de perreo”.
Outra característica do neoperreo é a estética sonora que não teme em utilizar o autotune, um recurso muito utilizado no trap ou pop. É o futurismo natural que não teme revolucionar o que já existe. Em 2018, a revista colombiana Shock se referiu ao neoperreo como: “um convite a aceitar a corporalidade para além da identificação com o lugar geográfico de origem, de tamanhos e cores, como a ferramenta fundamental de qualquer ser humano para se comunicar e interagir com a realidade e com os demais”. Isso se reflete não apenas na batida e na forma de dançar – mais rápida e com mais participação feminina – mas também com seus objetivos: Igualdade e romper com a dominação patriarcal do gênero masculino.
Assim, desta vez não são apenas os homens que estão falando sobre o que fariam com as mulheres, há também FLINTA (acrônimo alemão para mulheres, lésbicas, pessoas intersexuais, não binárias, trans e agênero, e todas aquelas pessoas que sofrem discriminação patriarcal por conta de sua identidade de gênero) que cantam livremente sobre seus desejos sexuais e sua vontade de desfrutar a vida. Nesse sentido, a intenção do neoperreo é romper com o cânon típico de feminilidade para que se possa sentir e se expressar tão livremente quanto desejem. Isso também se reflete na maneira de se vestir. Os looks de artistas como Tomasa del Real, Ms Nina ou Lizz são uma mistura de futurismo, gótico e perreo.
A Neoperreo é o exemplo vivo de que a mudança é a única constante
Cada tipo de reggaetón tem algo para comunicar. O gênero surgiu no Panamá nos anos 80 e refletia os discursos sociais da juventude. Tratava da pobreza, violência, amizade, drogas, amor e sexo. Sem dúvida, na maioria das vezes, parece que se tratava apenas de festas, drogas ou sexo e que, por conta disso, acabou sendo tachado como um gênero superficial. Porém tudo isso é político, sobretudo quando visto de outra perspectiva. A maioria dos protagonistas do neoperreo são FLINTA. E mais do que se limitar a dar uma nova resposta ao reggaetón, o neoperreo deseja demonstrar que pessoas FLINTA também podem falar de seu prazer, o neoperreo feito por pessoas FLINTA canta sobre a diversão, o prazer e o sexo, a partir de uma perspectiva intuitivamente comovedora. Trata-se de decidir o que querem fazer com seus corpos e como. Mas também trata sobre acesso e classe. Um dos motivos pelos quais as pessoas acreditam que o reggaetón e neoperreo sejam demasiado explícitos é porque não estão acostumados a esses estilos. Podem pensar que dizer algo assim não seja adequado. Onde nasceu e continua se desenvolvendo o reggaetón, as pessoas não falam em uma linguagem rebuscada. Esse estilo musical reflete aqueles que estão às margens na sociedade latino-americana, principalmente por seu status social. Supõe-se que o reggaetón seja fácil de entender. Por isso deve ser sujo e explicito, pois, reflete de onde vem.
Onde nasceu e continua se desenvolvendo o reggaetón, as pessoas não falam em uma linguagem rebuscada
“Assim, o Neoperreo é o irmão caçula, rebelde, barulhento, quase punk e Geração Z do reggaetón. Seu traço principal é seu som futurista e o fato de que tenta romper com os velhos conceitos de masculinidade. Não tem medo de soar feio, quase sem melodia, produzido de forma “barata”. Não tem que soar profissional para sem bom. Gosto do reggaetón que fala de coisas feias, que diz as coisas que ninguém quer dizer e parece grosseiro. Gosto desse tipo de reggaetón sobretudo porque me parece libertador”, nos diz Tomasa del Real.
Tampouco todos tem que gostar, o melhor é que seja divertido. Pessoalmente, como artista, acredito ser importante e bom que os gêneros evoluam e mudem. Durante anos houve um debate sobre o que seria melhor: Oldschool ou Newschool. Bem, não penso que a coisa seja preto no branco. É para se divertir, não para comparar.
Por último, recomendamos seis músicas que representam o Neoperreo e que os convidamos a escutar para que entendam melhor:
- Safety Trance, Arca – „El Alma que te trajo“
- Ms Nina – „Chupa Chupa“
- Tomasa del Real, DJ Blass, Maicol Superstar, DJ Urba, El Licensiado – „Perrea conmigo“
- Isabella Lovestory – „Mariposa“
- Salvaje – „2009“
- Rosa Perreo – „Rosa Perreo“